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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Polícia, “Civira”!



Chego das férias e encontro tudo como estava antes. Mesmo prédio ruim, mesma cadeira quebrada, mesma viatura em frangalhos, mesmo computador que só fica com internet fora do ar...

Cumprimento quem ainda restou e vou em direção ao escaninho onde fica minha papelada do serviço. Olho para os lado e reparo que ainda não chegou ninguém. Esqueci, na verdade quase não tem ninguém para trabalhar e percebo que ainda 30% do pessoal está de férias e não retorna por esses dias.
Passado alguns instantes chega meu amigo de trabalho. Damos-nos até muito bem, fora algumas divergências, mas quem não tem?

Botamos o papo em dia e uma atualizada no que aconteceu na minha ausência. Ele me fala de assuntos envolvendo toda gama de vagabundos, morte, desastres, desacertos entre outros. Como eu estava de férias, graças a Deus só falo coisas boas. Sim, durante meu recesso trabalhista aconteceram mais coisas boas que ruins. Depois de tudo sopesado, penso e concluo que só aconteceram coisas boas, em vista do que houve na cidade em que trabalho.

Primeira diligência do ano, cumprir mandado de Prisão de um fujão. Não darei detalhes para não identificar ninguém. O que tenho pra dizer é o seguinte: Vagaba foragido (de fuga mesmo e não de saidão) pelo que constava estava em uma cidade próxima e quem fez o contato denunciando o paradeiro foi um parente.
Meu parceiro e eu, os únicos na DP naquela temporada, decidimos ir buscar o fujão. Já que quem deu o serviço era parente e afirmou que ele estaria em casa, pensamos mole, mole. Então combinamos, vamos chegar bem cedo entramos no barraco (já com MP em mãos) enquadramos, imobilizamos e trabalho feito. Menos um na imensa pilha de papel que nunca acabará.

Pois bem, chegamos ao barraco e o portão estava aberto. Entramos e visualizamos possíveis pontos de fuga. Percebemos que só havia duas rotas e como éramos dois cercamos na boa. Batemos até cansar e nada de atenderem. O barraco parecia em ordem e até estranhei a limpeza do quintal. Meu parceiro já impaciente queria derrubar a porta, porém aquilo não parecia casa de vagabundo e pedi para que me desse um minuto. Fui até a viatura e peguei alguns artefatos para abrir a porta sem estourar. Quando dei a primeira rodada na lingüeta da fechadura apareceu um vizinho no portão informando que quem nós procurávamos não morava ali tinha duas semanas (sabia que tinha algo errado kkk). Assim ele ficou chamando em um ponto da janela e com muito custo apareceu uma senhorinha que toma remédios para dormir. Ela disse que não escutou nossos gritos, kkk. Lá dentro com ela tinha duas crianças e nenhum bandido. Contudo ela repassou onde o fujão estaria.

Chegamos ao segundo barraco e novamente chamamos. De imediato saiu uma senhora parente do vagaba, franqueou a entrada, conferimos e nada. Ela também indicou outro local.
No terceiro era uma casa abandonada e novamente nada. No entanto escutamos gritos vindo de um morro. E um iluminado vizinho passou o barraco dos vabagundos que ficava ali próximo, porém no meio do mato. No alertou que possivelmente eles estariam bem armados, pois um dia antes eles teriam roubado uma padaria e tinha enchido de PM atrás deles.

Olho para meu amigo e ele pra mim, os dois com cara de “e aí fi? Vão nós dois sozinhos ou chamamos reforço?”. Reforço que nada era cedo pra caralho, os polícia daquele local não deviam nem ter chegado à DP ainda. A área já tava queimada porque já tínhamos rodado em três barracos. Sinal da cruz, pedimos que Deus nos protegêssemos e fomos.

Ao avistarmos o barraco nem acreditamos que tinha gente morando. Tudo sujo por fora, um lixo imundo (ali com certeza têm bandido, eles adoram esse ambiente fétido). Percebemos três rotas de fuga, éramos dois. Fudeu! Parceiro ficou em uma janela que dá para o matagal, e eu em uma porta de entrada. Uma outra janela eu revezaria entre a porta também na hora de entrar.
Chegou o momento. Bati delicadamente na porta. POLÍCIA, POLÍCIA, ABRE ESSA PORRA AGORA. Só vi perninha correndo no interior e por buraco que faltava em um vidro enquadrei três que estavam em um quarto. Meu parceiro na janela impediu a fuga de outro. Mandamos todos ficar em um quarto, assim passariam a chave pela janela eu pegaria e abriria enquanto o parceiro ficava com eles na mira. Assim foi feito. Peguei a chave da mão de um e abri a porta. Quando entrei varrendo a casa sozinho, não achei mais ninguém além dos quatro no quarto. Assumi o quarto e o colega deu a volta. Quando perguntamos se todos da casa estavam ali, eis que um dos vagabundos falou que um tal de “neguim” estava no quarto dos fundos. Exatamente o que o colega estava mirando e teve que sair para enquadrar na outra janela. Conclusão “neguim” vazou. 

Mas para nossa alegria no quarto um dos malas era nosso alvo. Algemamos e demos um baculejo na casa. Não encontramos nada. Fizemos contato com a DP da área e pedimos para irem até lá qualificar os pila porque poderiam ser reconhecidos no assalto da padaria. Quando os polícia da cidade chegaram ao local nem acreditaram que tínhamos pegado quatro vagabundos deles. Haja vista que eles não sabiam onde estavam escondidos.

Conclusão, belo jeito de começar o ano. Correndo risco, por falta de gente e sendo cobrado a todo o momento. Não me orgulho e nem me acho super herói, só que é foda receber uma ligação com um serviço bom e não fazê-lo por falta de contingente.