Olá meus caros,
Estou ausente sim, assumo, acompanhando pouco o desenrolar blogostroll (os blogs só tem isso ultimamente).
Hoje não postarei nada de minha autoria. Irei apenas colocar o nobre relato de um grande membro da PCMG que esteve presente na batalha de Itamonte-MG, que todos devem saber, culminou na morte de 9 vagabundos.
Belo serviço dos policiais envolvidos. Esse relato faz qualquer um vibrar e querer também ficar na linha de frente pra meter bala no cu desses arrombados que querem atingir a IF sem esforço algum.
Abaixo segue o emocionante relato.
RELATO DO COLEGA DR.
ANDRÉ BARLETA SOBRE O OCORRIDO NO SUL DE MINAS. REALMENTE, SER POLÍCIA É
FODA, EM TODAS AS ACEPÇÕES DO TERMO! PARABÉNS!
Na sexta-feira,
por volta das 18h30, fomos convocados (todos os policiais civis da DRPC
de São Lourenço) a comparecer na DP imediatamente.
Ato contínuo, o Dr. João, chefe do 17 Departamento de Pouso Alegre indicou que deveríamos ir até a Seccional de Cruzeiro/SP para o briefing do que estava para acontecer.
Descemos para Cruzeiro/SP: eu, o Dr. Felipe Piccin, Dr. Bruno Cunha e
os Investigadores Rodrigo e Maviel. No caminho fizemos contato com
alguns Investigadores da DIG de Cruzeiro/SP que sempre nos dão apoio e
os mesmos não sabiam de nada.
Chegamos na Seccional da PC-SP em
Cruzeiro acompanhados dos policiais civis da DIG Cruzeiro/SP. Na
Seccional nenhum Delegado (nem o próprio Seccional) ou os policiais
sabiam o que estava acontecendo.
Após cerca de meia hora
chegaram cerca de 8 viaturas descaracterizadas do DEIC/SP (Capital),
estando presente o Divisional (Delegado chefe do DEIC) e o titular da DP
de Roubo a Bancos de São Paulo.
Não vem ao caso repassar
informações sobre o briefing mas, em suma, após alguns momentos ali
compareceram mais umas 8 equipes do GARRA da Capital/SP e 1 unidade do
GER da PC-SP com 8 snipers e policiais de contenção.
As informações davam conta de uma quadrilha de roubo a bancos (explosões de caixas) com cerca de 25 integrantes.
Haviam sido identificados 5 fuzis AK-47, 1 fuzil HK-G3, 2 fuzis Colt AR-15, escopetas, pistolas e granadas.
Não repassarei os pormenores das informações que estavam sendo
repassadas, mas todo os erviço de inteligência estava a cargo do DEIC,
em São Paulo-CP. E a inteligência funcionou perfeitamente.
Os alvos poderiam ser Itanhandu ou Itamonte.
O Dr Bruno Cunha acompanhou uma outra equipe, restando à nossa equipe
(eu, Dr. Felipe Piccin e 2 investigadores de São Lourenço) posicionarmos
o GER (Snipers) e o GARRA (contenção) na Praça Central de Itamonte e,
posteriormente, posicionarmo-nos na rodovia acompanhados de 4 equipes do
DEIC/SP no intuito de coibir uma possível fuga.
Equipes
posicionadas, conseguimos que mais uma equipe da DRPC de São Lourenço,
comandada pelo Dr. Márcio Ciarini, se agrupasse conosco.
Aguardávamos às margens da rodovia, escondidos na escuridão, com informações em tempo real da Inteligência da PC-SP.
Por volta das 2h00 um comboio furou o radar próximo e passou no sentido
do centro de Itamonte em alta velocidade. Conseguimos ver
perfeitamente: um caminhão baú, um Fiat Palio Weekend prata, uma Ford
Ecosport prata, um Honda Civic preto e um Renault Duster branco, todos
com as placas cobertas por plástico.
Adrenalina a mil, pois tínhamos o elemento surpresa.
Repassamos as informações às equipes da região central de Itamonte.
Passaram-se eternos 2 ou 3 minutos e, no rádio, recebemos as
informações de que já haviam 3 ou 4 mortos, um policial ferido, e
intensa troca de tiros.
Paramos uma carreta que vinha pela rodovia e a atravessamos na pista para auxiliar no bloqueio.
Após algum tempo o Renault Duster veio em nossa direção. Parou há
aproximadamente 30 metros com os faróis acesos. O motorista desceu já
efetuando rajadas de fuzil, enquanto o carona portava uma pistola.
Conseguimos neutralizar o carona, mas o motorista fugiu para um matagal
próximo.
Enquanto discutíamos sobre entrar ou não no matagal
onde o motorista havia se escondido aproximamo-nos do veículo, perdendo
nossa barricada, que eram as viaturas e a carreta.
No veículo
pudemos perceber que o carona havia sido morto, portava uma pistola,
usava colete balístico, havia mais uma pistola caída no chão do carro, e
muita, mas muita munição para todos os lados.
Neste momento, um outro veículo se aproximou com os faróis altos.
Abaixamo-nos próximo ao Renault Duster, mas estávamos sem qualquer barricada.
O veículo passou em baixa velocidade em direção à carreta e as viaturas
que encontravam-se com as luzes de sinalização ativadas, retornou e
lentamente veio em nossa direção.
Nossa única alternativa foi esperar.
Quando o veículo se aproximou nos identificamos como policiais e
determinamos que o condutor parasse o carro. Como todos aqui certamente
já fizeram diversas vezes.
Estávamos (cerca de 25 policiais)
distantes de 5 a 15 metros de distância do carro. Agachados às margens
da rodovia sem qualquer proteção.
A resposta que obtivemos:
tiro, tiro, tiro, muito tiro. Eu me lembro de cada segundo, mas não
posso dizer quando conseguirei esquecer as imagens e os sons.
Posso afirmar categoricamente que foram os mais longos e piores 30 ou 40
segundos da minha vida. Eu estava há aproximadamente 8 ou 9 metros do
carro, o Dr. Felipe estava mais próximo do que eu e não sei dizer onde o
Dr. Márcio estava.
Muito tiro. Muito perto.
Pude
visualizar o motorista descer e tentar correr efetuando disparos em
nossa direção. O carona estava com um colete balístico operacional,
touca ninja preta e um AR-15 baby. O passageiro do banco de trás eu não
consegui visualizar.
Resumindo: o motorista foi neutralizado. O
carona foi neutralizado com um disparo na cabeça e morreu com abraçado
ao AR-15 (cena de filme). O passageiro do banco de trás foi neutralizado
com um disparo na cabeça, mas, após o cessar fogo, pudemos perceber que
o mesmo portava dois carregadores de fuzil, uma pistola e estava de
colete balístico.
Reagrupamos e retornamos à barricada. Apenas o
Dr. Felipe Piccin havia sido ferido por um estilhaço abaixo do olho
direito, mas nada grave.
Em nosso cenário: 4 criminosos
neutralizados e 1 fuzil, 3 pistolas, 3 coletes balísticos e vários
pés-de-cabra apreendidos. 1 foragido.
Nunca poderei dizer em
quantas coisas consegui pensar naqueles poucos segundos em que eu estava
deitado, costas ao solo, visualizando os caras apontando fuzil, pistola
e disparando em nossa direção (estamos falando de 6, 7, 8 metros de
distância). Sei lá, mas 200 ou 300 tiros em 30 segundos.
Pensei
muito em ficar vivo. Pensei em neutralizá-los o mais rápido possível.
Sempre gostei do trabalho operacional, nunca imaginei que fosse querer
tanto que aquilo ali acabasse logo. É tenso. Escutei um disparo
estilhaçar um tronco de árvore uns 50cm acima da minha cabeça e eu
estava deitado.
Pode parecer brincadeira, mas depois que
acabou, ainda me refazendo de tudo que havia acontecido ali, eu pensei
em todas as vezes em que saí para cumprir Mandados de Busca e de Prisão e
outros policiais zombaram: "qual é, vai pra guerra?", "pra que levar
isso tudo de coisa?" ou "tá parecendo o Rambo!".
Pensei nas
vezes em que viajei pra BH, 450Km pra ir e depois 450Km pra voltar, sem
diária, sem lugar pra dormir (bate e volta), ia na Superintendência, não
havia um Delegado de Polícia que tivesse a dignidade de nos receber e
eu era obrigado a ouvir de um tal de "Marcinho", que eu nunca ouvi falar
que tenha prendido alguém, que não tinha nada pra dar não. Não tem
munição, não tem colete, não tem arma. Como se estivesse me fazendo um
favor. Quantas vezes supliquei e saí dali com míseras 50 munições como
se estivesse cometendo um crime. Era o nosso "cala a boca". Era o que o
"Marcinho" (???) tinha para nos fazer parar de encher.
Pensei
no dia (e me lembro muito bem de cada palavra) em que Policiais da
Superintendência foram até a Delegacia Regional de Itajubá, onde
trabalhávamos eu e o Dr. Felipe Piccin (ele me persegue) e nos
determinaram que entregássemos nossas pistolas, pois cada policial: "só
tem o direito de ter uma arma". Ao serem questionados pelo Dr. Felipe
Piccin se nunca haviam ouvido falar que em confrontos sempre existe a
necessidade de portar-se uma arma backup os mesmos limitaram-se a dar
uma risadinha.
Entregamos nossas pistolas backup.
No
confronto o Dr. Felipe Piccin foi lesionado por um estilhaço de projétil
abaixo do olho direito. Vocês podem achar que eu estou brincando, mas a
pistola dele teve uma pane em dupla alimentação. Eu não vi na hora, só
fiquei sabendo depois. Ele não portava arma longa.
Eu juro que
se o Dr. Felipe fosse morto ali e posteriormente restasse comprovado que
sua arma apresentara pane de alimentação, estando o mesmo sem backup,
eu iria até a Superintendência.
Bom, não vem ao caso entrar agora nesta discussão.
Reabrigamos e após algum tempo chegaram nossas viaturas de reforço.
Cerca de 40 minutos depois chegou a PRF e teve o absurdo trabalho de sinalizar a rodovia.
Chegaram umas 10 viaturas da PM. Não posso dizer que eles não estiveram
no local do confronto. Estiveram. Uma hora depois e para tirar fotos e
nos cumprimentarem do boca aberta.
Fomos até o centro de Itamonte para verificar o que havia ocorrido no local.
Na Praça Central e proximidades os Snipers e a contenção conseguiram
neutralizar 5 indivíduos. Outros dois foram alvejados e socorridos.
Alguns evadiram-se.
Foram apreendidos 3 fuzis, 2 escopetas calibre .12 (sendo uma
semi-automática) e diversas pistolas e revólveres (não contei). Todos os
criminosos estavam de colete balístico.
Muita dinamite e vários pés-de-cabra.
Um indivíduo que havia sido alvejado contou que eram cerca de 15 indivíduos apenas no caminhão.
Na praça, cujo centro estava isolado, a população se aglomerou. Fomos saudados e aplaudidos.
Quando saíamos da área de isolamento conseguíamos dar poucos passos sem
ser cumprimentados com largos sorrisos de sincero agradecimento.
Ahh, sim... A Polícia Militar chegou na praça e, depois, começou a
sobrevoar um helicóptero deles. Eles estavam com uma cara de mau que
dava até medo.
Eu olhei para o helicóptero, pensei naqueles
infernais segundos que havia passado poucas horas antes e comentei com
um Investigador ao meu lado: poxa, bem que eles poderiam amarrar uma
faixa no helicóptero com os dizeres "Obrigado Polícia Civil!".
O investigador riu e me sussurou: Dr, eles ainda vão sair na televisão dando entrevista, o Sr duvida?.
Ainda bem que eu não duvidei.
Bom, aqueles grupos da elite da PC-SP que inicialmente estavam meio de
narizinho em pé conosco ao final já estavam até nos admirando. Gostaram
de ver como, com tão pouco, em nenhum momento nós trememos. Fomos
elogiados e enaltecidos. Falar que não dá medo é mentira. Quem não
sentir medo em uma situação daquela merece estar morto.
Apenas para finalizar:
1. Os jornalistas deturparam os fatos em todas as matérias e em todos os meios de comunicação.
2. A Polícia Militar não participou de nada. Nada, nada, nada, nada.
Levantem a cabeça para qualquer PM pois eles não suportam perceber o
quanto somos foda.
3. Chefia não é tudo, mas é muito, muito mesmo.
Nosso chefe de Departamento Dr. João Eusébio esteve presente em
Itamonte, depois em São Lourenço. Abraçou a causa e nos deu total
suporte para tranquilizar-mo-nos em face da ação legítima.
Treinem bastante, o confronto acontece em segundos e, embora alguns
textos por aqui postados sobre a formação do criminoso, o quão eles são
coitadinhos, blá, blá, blá, não duvide: eles querem te matar.
Não adianta identificar-se como policial e determinar-lhes que se
coloquem em posição de busca. Eles não conseguem escutar quando estão
efetuando rajadas de fuzil tentando acertar a sua cabeça.
A
Polícia Civil de Minas Gerais têm muito o que melhorar, tanto em
técnicas de combate quanto em material, mas não ficamos abaixo de
ninguém em coragem e bravura.
A próxima vez que eu escutar de
um administrativo que não irá me depositar uma arma ou munições ou o
equipamento que for porque EU não preciso daquilo eu espero muito que
ele tenha um argumento bem forte.
Não é pelo dinheiro dos
bancos preservado. Nada paga você virar uma noite em claro, situações de
confronto, corpos caídos pela praça e Senhoras de 50 ou 60 anos
agradecidas virem até você às 5h ou 6h da manhã com um sorriso no rosto e
garrafas de café com biscoitinhos.
Ser polícia é foda.
Antecipadamente peço desculpas por palavras mais rudes, não é meu estilo, mas a ocasião é excepcional.
Força e honra a todos que diuturnamente se expõe com um ou dois
companheiros cumprindo MBA's ou Mandados de Prisão no meio de favelas,
matagais e etc sem o mínimo de equipamento necessário.
Somos todos heróis.
Força e honra.
Fiquem com Deus.
André Barleta
Delegado de Polícia - DRPC de São Lourenço
(P.S.: Escrevi e não revisei, por favor ignorem os erros.
Bem é isso pessoal.
Caralho, AP. Eu não tenho coragem de encarar uma situação dessas. Como te disse, se passar no concurso procurarei trabalhar internamente.
ResponderExcluirParabéns aos guerreiros pela batalha.
Mobral, quando fizer sua primeira operação aí sim você me conta se quer ou não ficar na atividade de polícia.
ResponderExcluirAP, a gente tem o mesmo pensamento... acumular grana e um dia alcançar a IF. Sendo assim, penso que devemos reduzir ao máximo a possibilidade de que esse processo seja interrompido por um acidente. No relato postado por você, o camarada deitado no chão a poucos metros das rajadas de fuzil contando com a sorte para não morrer. Tanto esforço, postergando prazeres de consumo, pra morrer assim? Penso que trabalhando internamente esse risco diminui bastante. Mas entendo o seu ponto de vista, o prazer da profissão se encontra na externa.
ExcluirAbraço.
Parabéns pelo excelente trabalho!!! Estive no local participando do cerco, essa era nossa ordem. Por favor, não tente desvalorizar nossa instituição (PMMG). A operação era da PC e nós entramos no apoio, fazendo o cerco. Tirei um turno de 26 horas, não nos foi permitido chegar no local para evitar o "fogo amigo". Quando tudo começou, já estávamos posicionados. Minha equipe tem disciplina tática e só deixou o cerco após receber ordens para deslocar até o centro. Dr Delegado, novamente Parabéns pela ação, mas deixe a PM em paz! O inimigo é outro!
ResponderExcluirSgt Drummond 17ª Cia de Missões Especiais - Pouso Alegre
Bacana Amigo,
ExcluirO relato não é meu, como descrevi acima.
Não desvalorizei nenhuma instituição também. Não tenho a PM como inimigo tb.
parabéns a todos envolvidos na ação, sou pc e acho que o delegado exagerou um pouco nas criticas a pm, quanto a prf nada mais normal, provavelmente estavam fazendo uma caixinha, por isso demoraram, quanto ao material de trabalho, realmente é uma vergonha, carro novo chega todo dia, deve haver alguem lá que ganha comissão, mas armamento e material de inteligência e proteção..... estes nunca vi..............
ResponderExcluirCarro novo? Na minha DP tem uns 5 anos que não vemos.
ExcluirSua PC é de Minas tb?
Fala, AP... tá sumido cara, imagino que esteja estudando pra seu objetivo que é se tornar delegado.
ResponderExcluirEnfim publicaram o edital do concurso de Investigador.. tô na luta pra tentar ser seu colega.
Abraço.
Quem não fica louco, extasiado e até arrepiado com um relato desses não nasceu pra coisa. O trem é doido demais da conta!
ResponderExcluirBlog sensacional... poderia atualizar mais vezes... queria pegar umas dicas já que estou fazendo o concurso de 2014 ... meu email: hugomeira@hotmail.com
ResponderExcluirEscreva mais, brother! Eu e um monte de gente muito ansioso para entrar na acadepol...
ResponderExcluirParabéns pelo blog, irmão!
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