Salve galera. Hoje irei relatar um dos bons momentos em que
passei na Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais. Confesso que o tempo
de formação foi curto, mesmo realizando a carga horária exigida pela SENASP
(órgão federal que rege as diretrizes da segurança pública).
Lembro que o primeiro dia todos os aprovados, depois de
quase um ano de testes aplicados posteriores a prova escrita, chegaram até o
ginásio da Academia PCMG que fica na capital de MG.
Lá é uma área relativamente grande pela região, possui
ginásio coberto, campo de futebol gramado, quadras, piscinas, academia de
musculação, pista de corrida, em fim quase tudo que se é necessário em um campo
de recreação e com fins de treinamento.
Na medida em que entravamos no ginásio fomos instruídos a
esperar próxima a quadra principal. Assim o fizemos. E como fizemos. Ficamos
esperando sentados por cerca de 3 horas até uma viva alma tomar a iniciativa e
começar a apresentar a instituição. A partir daí o bicho pegou. Foi uma dezena
de palestra de tudo quanto há. Acredito que sai de lá sabendo até de física
quântica. Fomos instruídos de como nos apresentar durante o curso, vestimenta,
calçado, acessórios para aulas praticas, etc.
Pois bem, nos apresentamos no segundo dia, todo mundo
tentando se aproximar ao máximo do que foi solicitado anteriormente. Mas
aspirante é aspirante (termo usado durante o curso, antes da posse), e sempre
tem o dom de tornar uma coisa que é fácil em um verdadeiro desafio. O pedido
era simples por parte da direção e consistia no seguinte:
- barba e cabelo feitos (só durante o curso, pois depois que
virá PC, o fodas é seu, o estilo é seu, se quiser usar barba de papai Noel blz,
cabelo de roqueiro Tb, dread Tb):
- blusa branca e calça jeans azul;
-sapato preto.
Pronto, só isso. Mas os aspirantes mesmo assim não
conseguiram entender o recado. Recordo de ter visto gente lá de blusa vermelha,
tênis branco, barba por fazer, cabelo Black Power. Um show de horror, os
monitores ao invés de acharem ruim com a galera começaram a rachar os bicos,
quebrando o gelo. Até por que eles sabem que seremos todos uma família dali pra
frente, e não tem essa de ficar atrapalhando a vida do colega. Mas como os
diretores são mais marrentos eles exigiam o mínimo de disciplina.
Lembro das aulas coletivas que tínhamos, uma vez fomos ter a
primeira aula de defesa pessoal, e logo aparecem mil Jack chan’s, karatês kids
e os cambal, querendo aparecer, dizendo que lutam isso ou aquilo. Até hoje não
esqueço, o professo chegou no tatame e perguntou quem já tinha experiência com
luta, graduação, faixa, essas coisas que não manjo muito. Nesse momento eis que
surge o Paraíba gritando:
- Aqui fessor, aqui, eu.
O professor, um senhor campeão brasileiro de jiujutsu, com
aproximadamente 65 anos chamou o Paraíba para testar suas habilidades. O otário
foi babando em cima do velho, que acredito ter dado um gamegamerrar nele com a
ponta do dedo mínimo. O puto do Paraíba caiu no chão com o pé torcido gritando
igual um cabrito. Galera não agüentou e começou a rachar os bicos. Ninguém resistiu.
No outro dia estávamos na fila de formação, e sempre era feito a chamada, quem não estivesse presente
tinha que justificar, quem não o fazia sofria punição, quase sempre ficar lá
estudando no domingo (único dia de descanso durante o curso).
Do nada aparece o Paraíba em cima de uma bicicleta rosa de
criança, daqueles Ceci, sendo empurrado por outro aspirante. Aquela cena foi hilária,
devia ter uns 600 aspirantes em formação e como a entrada era por cima, todo
mundo viu o Paraíba chegando. Até o carrancudo do diretor não agüentou a cena e
disse “tenho que aposentar logo, já vi coisa demais nessa vida”.
Já na sala de aula conversamos com o Paraíba para saber o
que aconteceu e quem teve a brilhante idéia. Ele realmente era do nordeste, e
estava na capital fazendo o curso como vários outros. Portanto não tinha recursos
sequer para ir ao hospital e o pé só começou a doer à noite. Foi então que
segundo ele pegou o telefone e discou o 197 (telefone da PC) e falou o
seguinte:
Atendente – 197 Polícia Civil no que posso ajudar?
Paraíba - Boa noite moça, preciso noticiar que tem um
aspirante ferido.
Atendente – Não entendi senhor, pode repetir?
Paraíba - Moça aspirante ferido, fui ferido na aula de
defesa pessoal.
Atendente – Senhor aspirante, está usando o telefone da
corporação para passar trote? Qual sua matricula?
O Paraíba desligou na hora o telefone com medo de sofrer
alguma punição. O que era mais engraçado era a humildade dele em não ver o
problema daquela situação. Realmente é um cara que tem a alma muito boa,
posso falar que se equipara a uma criança.
Depois dessa empreitada Mal sucedida, o gênio teve outra.
Como ele não possuía carro e outro meio de locomoção, ele viu em uma das muitas
casas de aluguel que cercam a academia, uma bicicleta com rosa infantil, com os
pneus furados, sem freio, toda estourada. Com o apoio do colega de quarto
também aspirante, ele montou na bike e o outro cidadão foi empurrando ele para
não atrasarem na formação. Porém a distância era de aproximadamente 1km e eles
calcularam mal o horário. Momento em que ele chegou todo empenado e o outro
aspira todo suado de tanto empurrar o colega.
Hoje ele faz parte de uma equipe
da narcóticos que prende pra caralho. Muito foda os serviços dele, com certeza
já o viram na TV, mas não vou revelar a identidade.
Mudando de assunto, a maior parte das aulas da academia é
teórica e quase nenhuma atividade física. Até por que o trabalho da PCMG que é
de polícia judiciário é técnico científico. Eles prezam mais o intelecto que o
físico. Claro que os grupos especiais que qualquer um queira entrar terá que se
submeter a situações de grande rendimento. Mas só quem quiser.
Na maioria das aulas de atividade física podemos fazer o que
quisermos como nadar, jogar futebol, musculação, essas coisa que tem em clubes.
Show de bola são as
aulas de TAP (técnicas de ação policial). Aqui você aprende a realizar
incursões em favelas, becos, áreas de riscos. Treinamos situações com reféns na
qual você de posse de uma arma de verdade com munição de festim tem que
adentrar uma residência e vão aparecendo personagens em algumas plataformas. Instintivamente você tem que identificar o alvo, se é refém ou vagabundo e agir,
salvar ou neutralizar, respectivamente. Mas essa ordem no começo nem sempre é
seguida, kkkk.
Por isso que treinamos para chegar a excelência e poder oferecer
segurança para a população, por que o que morre de refém no começo não ta no
gibi. Galera saí atirando em tudo que aparece na frente, até colega acertam
kkkk.
Mas como disse, o início é difícil, depois pegamos o jeito.
E como que num passe de mágica, já nas últimas aulas você percebe a evolução, a
sincronia, todo mundo entrosado e os erros não existem mais.
É isso galera, depois volto aqui e converso com os senhores
novamente. Vlw.